Petar – O dia que a vida ensinou e muito

Petar – O dia que a vida ensinou e muito

8 de dezembro de 2015 1 Por aventurasdoabilio
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Quando eu comprei meu carro, eu dizia: “nada vai me segurar, quero viajar muito”. Lógico, que viajei, fiz várias coisas, mas nunca foi com a intensidade que eu imaginava quando eu sai da loja dando as primeiras aceleradas.

Os meus amigos sabem o tanto que sou ansioso, gosto de ser intenso nas coisas que faço, fico um tempão imaginando, pesquisando, falando e passando filmes na minha cabeça, sobre qualquer evento. Viajar, consegue me deixar um pouco mais empolgado do que o normal, são muitos planos. Sabe o que é mais legal? Quando as coisas acontecem tem uma mistura da ficção criada durante todo o período que antecedeu, mas a realidade pode surpreender e as vezes, na maioria das vezes me presenteou. Thanks God!

Demorei pelos menos 3 anos para fazer a viagem até o Petar. Quando vi as primeiras fotos, eu pensei um dia eu vou lá. Demorou tudo isso, mas as coisas acontecem quando tem que acontecer. Tive os dois melhores companheiros que eu podia ter, e sabe o que é mais engraçado? Até aquele dia eu não tinha muita intimidade com eles. A Mayara, trabalha comigo, sempre conversamos, mas nunca tínhamos passado tanto tempo juntos. O Silveira (Lucas), era o amigo dos meus amigos, um dia comentei que gosto de fazer trilhas e ele disse, quando for me avise. Eu avisei e ele topou. E lá fomos nós.

A viagem

Saindo de Curitiba pegamos a rodovia Regis Bitencourt, sentido São Paulo, o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), fica no vale da Ribeira, queríamos conhecer a Caverna Santana, fica em Iporanga. Eu juro que olhei as opções de trajeto, mas só descobri que escolhi o caminho mais longo depois que cheguei lá. Isso trouxe coisas boas e ruins.

As boas foram passamos por lugares inesperados, paramos em Jacupiranga, estava tendo uma feirinha, que maravilha, tinha pastel e caldo de cana. Vem energia! Outra coisa de se perder é encontrar coisas pelo caminho e sabe o que encontramos? Uma super cachoeira, mal sabíamos o que nos esperava pela frente, mas ja tinhamos a certeza que na volta passaríamos lá.

Aventuras do Abilio Petar - O dia que a vida ensinou e muito

Aventuras do Abilio Petar - O dia que a vida ensinou e muito

O lado ruim foi, nunca mais chegávamos no lugar, as estradas por lá não tinham muitas placas, sempre achávamos, agora só faltam 20 km, mas era 50 que se tornavam 70 e assim foi. Chegamos! Devido aos acontecidos a caverna estava lotada. Nosso guia tinha deixado avisado para irmos encontrá-lo em outra caverna, a Ouro Grosso.

Como eu escolhi o guia?

A região é cheia de guias, a fonte de renda é baseada em agricultura e eco turismo, são muitas pousadas, aventuras e trilhas. O mais legal é que aparentemente a população tem incentivo para se especializarem. Pelo facebook, consegui entrar em contato com dois guias, a página deles eram, mais atualizadas, mandei mensagens e um deles respondeu rapidamente, ajustamos os detalhes, mas um detalhe nunca batia, a data. Percebi que ele é muito famoso, muitas excursões e eventos para ele atender. Decidi dar uma chance para o outro guia, ele demora para responder, mas fez um ótimo trabalho.

As cavernas

Por segurança é importante usar capacete e lanterna, afinal são lugares escuros e de difícil acesso. Recebemos as orientações, prometemos nos comportar e seguimos. Como disse fomos para a caverna Ouro Grosso, tem esse nome, porque internamente ela tem um fungo que tem a cor dourada, o famoso ouro dos tolos. Não sei vocês, mas eu nunca tinha entrado em uma caverna antes, a sensação é estranha, o silêncio, a umidade, as formações das pedras e nesse caso a água que brotava sabe Deus de onde.

No caminho tentamos ser muito cuidadosos, ninguém queria ficar com os pés molhados o resto do dia. claro que em alguns momentos era inevitável, mas todo cuidado era pouco. O caminho tinha surpresas, uns insetos estranhos, aranhas com as maiores pernas e algumas pessoas que surgiam de outros túneis que estavam o caminho de volta.

Aventuras do Abilio Petar - O dia que a vida ensinou e muito

O final dessa caverna reserva uma surpresa, uma queda d`água, até podia imaginar pelo barulho, mas foi surpresa sim. Minha reação? que alegria, Quero! tirei os equipamentos, carteira, celular e me joguei. Que gelo, que legal. O mesmo foi feito por alguns do grupo. O grito após a agua gelada molhar o corpo era inevitável, mas vinha acompanhado de um sorriso. Lavamos a alma.

Voltar com a calça jeans e botas molhadas não foi tão legal assim, o caminho de volta exigia mais atenção era mais apertado, mais escorregadio. Sabe quem não liga para isso? Um cachorro que passou pela gente, sem capacete e sem lanterna e seguiu deixando seu rastro. Foi bizarro.

Cai, quebrei a lanterna, mas sai vivo.

Nessa altura do campeonato já tinhamos intimidade com o guia, falamos muito sobre o sossego de viver em um lugar assim. Claro, que perguntamos, se o pessoal usava umas droguinhas por ali. Ele como um bom profissional, disse, sempre tem uns turistas, mas não aconselhamos por serem perigosas as trilhas. Tudo bem, aqui ninguem quer mesmo.

Por ser na região da mata Atlântica e ser preservada, muitas árvores antigas pelo caminho, mas tinha uma que não resisti, fiz o que sempre faço quando vejo alguma tão antiga, e tão forte, eu abraço. Nos despedimos dela, passamos por dentro, por uma fenda e bola pra frente.

Chegamos no centro de atendimento ao turista, tirei a agua das botas, troquei de roupa para ficar melhor e poder entrar no carro de novo. Pensa numa craca.

Fizemos um “lanchinho”, algumas coisas compramos em um mercado da cidade, foi uma decisão sábia, aquele “lanchinho” nos manteve vivos durante o dia todo. Obrigado ao inventor do pão bisnaguinha.

A segunda caverna era bem próxima, passamos pela casa do guia e ele nos presenteou, no quintal de casa ele tem um pé de fruta do conde, foram as maiores que já vi. Estavam muito maduras e docinhas. Coisas simples 🙂

Ao chegarmos na caverna conseguimos perceber o sucesso do eco-turismo, tinha muitos visitantes, tirar uma foto sem aparecer um estranho estava bem difícil. Essa caverna chamada de Lambari é bem maior, tem muitos labirintos e formações diferentes, vale usar a imaginação e identificar personagens. O guia via de tudo, nós não, mas tudo bem, foi divertido assim.

Para os mais corajosos existe a possibilidade de fazer uma travessia por dentro da aguá até outra caverna, deixamos para a próxima e voltamos.

Deixamos o guia na casa dele, foi a hora de entrar em ação lado comerciante, queria vender, frango caipira, geléias (ótimas por sinal), experimentei com pão bisnaguinha, ofereceu também umas plantas verdes secas que relaxam, mas não são chá hahaha

Agrademos por tudo, pelos ensinamentos, generosidade e companhia e seguimos para a cachoeira.

A cachoeira

Tenho que admitir que gosto de ouvir rádio, até pouco tempo não tinha pendrive no meu carro, mas para viagens longas percebi é importante, o celular do Silveira, já não aguentava mais tocar e a Mayara não queria o chiado do meu rádio querendo sintonizar.

MEU DEUS, não é só uma expressão, é também o nome da cachoeira. Provavelmente, batizada em um momento de entusiasmo de algum visitante. Segundo a Mayara: “Meu Deus, porque, né? MEU DEUS”. Uma maravilha.

Para chegar la paramos em uma lanchonete na beira da estrada e perguntamos como funcionava, ninguém muito simpático veio nos atender, só falaram paguem na volta. Pegamos uma estrada de chão que passa ao lado do asfalto e fomos, com a cara e a coragem, a partir de agora tudo que vier é lucro, isso não estava planejado.

Meu golzinho guerreiro como sempre subiu bravamente, superando as pedras, as condições da estrada e nos levou ao destino. Sem nenhuma sinalização achar a cachoeira se não tivesse ninguém no local seria uma loteria. Fomos andando, caindo, levantando, rindo, caindo de novo, nunca chegava. Não é tão longe assim, mas o cansaço já era forte nessa altura, ja estava quase escurecendo, já não estava tão calor, mas queríamos achar. Achamos. A primeira vista hipnotizou, estava praticamente vazia, tinha um pessoal que logo foi embora, uma cachoeira particular. A Mayara, preferiu preservar a saúde ficou apenas admirando, eu e Silveira, pulamos, nadamos e suportamos o peso de uma infinidade de agua caindo de mais de 40 metros de altura. Sacrificio? De jeito nenhum.

Hora de dar tchau

Sem estrutura hora de se virar para trocar de roupa e voltar para casa. Improviso, para um vestiário feminino. E para mim a surpresa que tinha deixado minha mochila com roupas para a volta em Curitiba, o jeito foi torcer a bermuda, e vestir. Voltei para casa parecendo um mendigo, sujo, molhado e descalço.

Pé na tábua, Curitiba não é logo ali, olhava para o lado um dormindo, olhava para trás, a outra desmaiada enrolada na coberta do filho. Que inveja haha

Antes de pegar a rodovia principal, paramos em uma pizzaria, não importava as condições a fome era muita e ja não tinha mais bisnaguinha. Decidimos que ninguém mais iria dormir e tomamos energético, para mim um gole faz efeito para sempre, que bom. Comemos aquela pizza que pelas condições foi a melhor pizza do mundo.

Consultório móvel

Seriam mais algumas horas de viagem, o jeito era conversar, e assunto não faltou, fomos da comédia a tragédia, do riso ao choro, muitos conselhos, muita solidariedade e muita atenção. Três vidas sendo colocadas nos eixos naquele dia, em função de tudo que passamos, o ínicio de um processo de muita parceria, que bom as coisas aconteceram do jeito que aconteceram, que bom que esperei três anos. Que bom que éramos os três.

Informações

O Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira se localiza no sul do estado de São Paulo, entre os municípios de Apiaí e Iporanga. Wikipédia

Endereço: Rodovia SP-165, Km 156, s/n – Zona Rural, Iporanga – SP, 18330-000
Área: 357,1 km²
Telefone: (15) 3552-1875
Data De Consagração: 1958